segunda-feira, 13 de agosto de 2012

F*da-se ligado no modo turbo

Estar em um país diferente é ótimo. A vivência, a troca de experiências, o conhecer o novo é sempre incrível. Mas há sempre o momento "p*ta que pariu, que que eu tô fazendo aqui?". O meu chegou nesses últimos dias.

Pra não me alongar muito, dois episódios da última semana.

Episódio 1 - Boca suja

Sábado de manhã, decidi sair pra dar uma caminhada na Feira do Pau Preto (sim, pau preto!) pra ver alguns artesanatos e comprar uma pintura pra disfarçar um pouco o laranja-gari da parede do apartamento onde moro. Mal chego, já junta um monte de gente querendo que eu compre qualquer coisa por um preço exorbitante. Mantenho a classe. "Não, obrigada", "não quero, obrigada". Até que um guri chega com uma espécie de xilofone rústico, cujo nome local a raiva do momento me fez esquecer completamente. Agradeço, digo que não estou interessada, e continuo a caminhada. O bendito vai atrás.

- Leva só pra me ajudar, mama.
- Não, não quero.
- Pode pagar o que quiser.
- Não quero.
- Compra, você tem dinheiro.

Minha santa! Entro em uma padaria no caminho. Tomo um café, como um pão com manteiga, vejo umas notícias na TV. E o cara me esperando lá fora, erguendo o xilofone a cada vez que passo os olhos pela janela. Não tem jeito, preciso ir pra casa. Mal coloco o pé na calçada, ele volta a me encher. Dois quarteirões depois, perco a paciência.

- Leva, você tem dinheiro, precisa me ajudaaaaaar!
- Meu querido, pega este instrumento e enfia no meio do seu c*. Eu já disse que não vou comprar p*rra nenhuma. Não tenho interesse. Não gosto. Não levo nem de graça.

Saiu de perto com os olhos arregalados. Resolveu.

Episódio 2 - O troco

Sexta-feira, final da tarde, galera toda querendo ir pra casa encher a cara. Busão lotado, chegando na paragem onde desço. Pego o dinheiro, dou ao cobrador e aviso que vou descer no próximo. Ele tenta dar uma de engraçadinho.

- Não quer sentar?
- Não, obrigada. Já disse que desço na próxima paragem.
- Não quer sentar aqui? - fala sorrindo e batendo a mão na perna.

Suspiro, olho pra ele com cara de pena.
- Meu querido, olha bem pra mim. Você aí, mal consegue se manter em pé, e ainda acha que alguém do meu naipe vai sentar no seu colo? Acha mesmo que consegue?

O chapa inteiro cai na gargalhada e grita, me apoiando. Ele insiste, levantando as sobrancelhas.
- Mas aqui é o melhor banco do chapa.
- Agora fala sério. Alguma vez essa conversinha furada colou com alguém? Alguma moça alguma vez aceitou isso? Funciona de verdade? Tá faltando tanto carinho assim em casa, meu querido?

Pronto, viro a rainha do chapa. Ganhei o dia. Até o motorista buzinou e me fez um joinha depois que desci.

O pior é que estou gostando desta minha nova versão.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

As aves que aqui gorjeiam

Segunda-feira é sempre um dia estranho aqui em Moçamba. Hoje, em especial, começou mais estranho que os demais.

Todas as manhãs, acordo com o som dos vendedores que ficam debaixo da minha janela e de umas aves estranhas. Ainda não consegui identificar que aves são aquelas. São pretas, fazem som de corvo, mas não tenho certeza se realmente são corvos. O fato é que não são sabiás, e o canto me parece um tanto quanto selvagem.

Hoje, entretanto, acordei as 5h da manhã, com uma pessoa ofegante debaixo da minha janela, e uns "flap-flop-flap-flop". Demorei a acreditar que poderia ser isso mesmo que você está pensando. O som era o mesmo, e não terminava nunca. Virei pro outro lado, o som persistia. Incomodada, olhei pela janela. Era um velhinho tentando fazer seu cooper às 5h da manhã, e de chinelos! Por Deus! E o pior é que ele ia da entrada do meu prédio até a esquina e voltava, em uma distância de não mais de 30 metros.

Depois de amaldiçoar mentalmente os últimos dias de vida do velhote e seus chinelos, eis que ele cansou e consegui dormir de novo. Pontualmente, às 6h30, chegaram os vendedores e seus megafones imbutidos nas gargantas. Como falam alto!

Reclamações à parte, para além da barulheira dos ambulantes, hoje não foram os corvos, ou seus primos, que cantaram pela manhã. Eram passarinhos mesmo, desses de canto fininho. Quando levantei, percebi que estava nublado. Vai ver, quando o tempo está pra chuva, os corvos dão lugar aos passarinhos.

Outro ponto peculiar aqui em Maputo é o cheiro das ruas na segunda de manhã. A galera bebe todas no final de semana, e o cheiro de xixi é tão forte que é quase possível ver o vaporzinho subindo. Nem banheiro de rodoviária consegue superar o ambiente de segunda cedo.

Depois de compartilhar com o mundo meu mau humor matinal, fui supreendida por um senhor e sua garrafa de pinga. Na esquina de casa, aquele olhar opaco, que parece olhar através das pessoas, que só os bebuns têm. Um sorriso frouxo e sem dentes. Olhou na minha direção, ergueu a garrafa e disse "Moçambique é bom, né?"

Ainda não tenho minha ideia formada, mas, apesar dos pesares, consegui rir um pouco logo pela manhã.