terça-feira, 20 de novembro de 2012

Um desabafo

Praia de Ponta do Ouro, sul de Moçambique.
Ninguém nunca disse que meu tempo em Moçambique seria simples e fácil. Como todo sonhador, vim cheia de ideias e de esperanças. Mas, às vezes, o tempo por aqui fica tão feio que é difícil ver além do horizonte cinzento que se impõe à minha frente.

Moçambique, assim como muitos outros países, possui uma história conturbada, uma independência recente e alguns conceitos de desenvolvimento truncados. E a população aprendeu rápido a colocar a culpa de tudo que é questionável na cultura. Dizer que algo é cultural e que deve ser respeitado como tal acaba sendo um golpe baixo, um soco no estômago, uma mordaça. Imobiliza, emudece, inibe.

Desde que cheguei, confronto-me com essa situação. Se proponho uma mudança, se questiono uma rotina, se busco entender o desconhecido, levo a máxima "assim é a nossa cultura". E, assim, muito do que tento acaba sendo ignorado, minhas perguntas ficam sem respostas, meus incentivos ficam sem retorno. Sinto-me encurralada, imóvel, impotente.

Gosto de Moçambique. Em momento algum me arrependo de ter aceitado o desafio de ter vindo pra cá. Mas, às vezes, acabo me sentindo frustrada por não conseguir fazer o que me proponho, por não conseguir fazer alguma diferença significativa, por não deixar legado algum. Sinto como se tivesse parado no tempo, sem conseguir passar pra frente o pouco conhecimento que tenho, e sem conseguir adquirir a sabedoria que busco.

Fico em Moçambique até março. Espero que o tempo abra até lá.