A primeira coisa que um gringo branquelo não vindo das proximidades do Reino Unido ou da Ásia precisa superar é a tal da mão inglesa. Das duas uma: ou você vai acabar abrindo a porta do motorista quando pegar uma carona e vai se deparar com o volante (enquanto o motorista ri da sua cara, claro), ou vai viver perigosamente a cada esquina. Eu, que não sou qualquer turista, já fiz dos dois. E, como gosto de bater perna, só agora começo a me acostumar a olhar pro lado certo quando atravesso a rua.
Outra aventura, e das grandes, como comecei a relatar no post anterior, é andar nos chapas. Agora que moro em outro lugar, tenho a sorte de pegar os micro onibus no contrafluxo e raramente vou pro trabalho cheirando o cangote dos colegas. Não tenho a mesma sorte com as músicas.
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Motorista do chopela tentando desviar do trânsito. |
O desafio maior, porém, é você avisar o motora que vai descer no próximo ponto. É claro que não tem cordinha pra puxar. Tem que encher o pulmão e gritar "Paragem!". Isso umas três vezes, até alguém escutar. O cobrador é quem geralmente avisa o motorista, mas isso quando não está pendurado pra fora do busão, chamando a galera pra entrar.
Funciona mais ou menos assim: o chapa vai chegando no ponto, ou paragem, o cobrador já abre a porta e poe metade do corpo pra fora. Se ninguém vai descer, ele fica lá, gritando o destino final pra ver se alguém se interessa em subir. Se alguém desce, ele vai acompanhando, caminhando, do lado de fora, mão agarrando o puta-merda da porta, e gritando pra chamar a galera. Aí o motorista dá uma acelerada mais forte e ele pula pra dentro. Enquanto isso, a galera tem que descer com o veículo em movimento. Adrenalina pura!
A comunicação cobrador/motorista também é interessante. Usa-se o moderno método de bater na lataria. Se tem um tiozinho correndo pra pegar o chapa e o motora não viu, o cobrador tasca soco na lataria. O motorista acelera menos e a pessoa sobe. Se alguém grita "Paragem!" e o motorista não escuta, o cobrador assovia e tudo se resolve.
E, a mais clássica de todas: se o busão tá cheio (lê-se cheio pra caraca, com gente com a busanfa pra fora da janela e cabeça ralando no teto), o motorista, além de não parar, vai te fazer um sinal. Vai bater com a palma de uma mão aberta sobre a outra, fechada, estilo "sentou no sorvete". Pra eles, é um gesto de "tá cheio, ê pá". No Brasil, a gente entenderia "se ferrou!". Então, se for pegar chapa aqui e levar este gesto, ele não está rindo da sua cara e te mandando ir a pé. E, acredite, você estaria muito mais ferrado se ele tivesse parado pra você entrar.
Por fim, compartilho outra experiência que tive na semana passada. Sexta-feira, abertura das Olimpíadas, fui comprar uma TV. Não ia trazer de chapa e não passava um taxi na rua. Peguei um chopela, aquela cruza de moto com fusca, da foto ali do lado. Ainda não consegui fotografar um daqui, mas o modelo indiano que peguei na internet ilustra bem. Por incrível que pareça, não começaram a usar chopela como transporte de mais de dois passageiros por aqui. Melhor não divulgar muito essa foto indiana.
Pois bem, o tal do chopela (que, na língua local, significa carona) custa metade da corrida de taxi, com o dobro de aventura. Não tem cinto de segurança nem capacete. O vento bate na cara o trajeto todo. E os pilotos deixam motoboy paulista comendo poeira. Detalhe é que fazem isso com você dentro.
Tentei filmar o trajeto de dentro do chopela, mas o negócio treme tanto que tive que escolher entre filmar e segurar a mim, o celular e a caixa da TV dentro dele. Mas vale a canora.
Não reclamo mais do metrô!
ResponderExcluirhahahah nem eu!
ExcluirHahaha na India esses são os "autos (curto para auto-rickshaw, desconheço a origem!), mas eu ficava até sem graça de ir trabalhar sozinho num desse, passando por outros com até 10, 12 pessoas dentro! Mas a emoção vale a pena! :P
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