segunda-feira, 6 de agosto de 2012

As aves que aqui gorjeiam

Segunda-feira é sempre um dia estranho aqui em Moçamba. Hoje, em especial, começou mais estranho que os demais.

Todas as manhãs, acordo com o som dos vendedores que ficam debaixo da minha janela e de umas aves estranhas. Ainda não consegui identificar que aves são aquelas. São pretas, fazem som de corvo, mas não tenho certeza se realmente são corvos. O fato é que não são sabiás, e o canto me parece um tanto quanto selvagem.

Hoje, entretanto, acordei as 5h da manhã, com uma pessoa ofegante debaixo da minha janela, e uns "flap-flop-flap-flop". Demorei a acreditar que poderia ser isso mesmo que você está pensando. O som era o mesmo, e não terminava nunca. Virei pro outro lado, o som persistia. Incomodada, olhei pela janela. Era um velhinho tentando fazer seu cooper às 5h da manhã, e de chinelos! Por Deus! E o pior é que ele ia da entrada do meu prédio até a esquina e voltava, em uma distância de não mais de 30 metros.

Depois de amaldiçoar mentalmente os últimos dias de vida do velhote e seus chinelos, eis que ele cansou e consegui dormir de novo. Pontualmente, às 6h30, chegaram os vendedores e seus megafones imbutidos nas gargantas. Como falam alto!

Reclamações à parte, para além da barulheira dos ambulantes, hoje não foram os corvos, ou seus primos, que cantaram pela manhã. Eram passarinhos mesmo, desses de canto fininho. Quando levantei, percebi que estava nublado. Vai ver, quando o tempo está pra chuva, os corvos dão lugar aos passarinhos.

Outro ponto peculiar aqui em Maputo é o cheiro das ruas na segunda de manhã. A galera bebe todas no final de semana, e o cheiro de xixi é tão forte que é quase possível ver o vaporzinho subindo. Nem banheiro de rodoviária consegue superar o ambiente de segunda cedo.

Depois de compartilhar com o mundo meu mau humor matinal, fui supreendida por um senhor e sua garrafa de pinga. Na esquina de casa, aquele olhar opaco, que parece olhar através das pessoas, que só os bebuns têm. Um sorriso frouxo e sem dentes. Olhou na minha direção, ergueu a garrafa e disse "Moçambique é bom, né?"

Ainda não tenho minha ideia formada, mas, apesar dos pesares, consegui rir um pouco logo pela manhã.

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