segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um sonho para chamar de meu

Não são poucas as pessoas que me perguntam o que me fez voltar para a África, largar um emprego estável, bem remunerado, uma vida calma em São Paulo, coisas que se consideram promissoras. Largar tudo isso e viver de voluntariado, quase sem remuneração, em situações bastante modestas, no meio de ambientes poucos simpáticos. O motivo é simples: uma realização pessoal.

Desde que mudei de faculdade e fui morar em Florianópolis, comecei a alimentar dois objetivos. O primeiro, ser correspondente de guerra. O segundo, ir para um campo de refugiados, se possível, como correspondente de guerra. Metida que sou, preferi ir antes de me formar. O fim desta história, como quase todo mundo sabe, foi que gerou meu Trabalho de Conclusão de Curso. Fiz uma reportagem sobre meninos soldados e meninas escravas sexuais em meio a guerra civil de Uganda (publicada, posteriormente e em versão bastante resumida, pela revista Galileu, disponível a assinantes aqui). E foi desta experiência que nasceu um sonho ainda maior e mais forte: trabalhar com ajuda humanitária.

Trabalhar com voluntariado nem sempre é tão fácil quanto se parece. Há de se enfrentar as diferenças culturais, o choque de realidade, o preconceito, a falta de recursos. Mas o retorno que se tem é algo que dinheiro algum é capaz de pagar. Não há promoção na empresa, salários adicionais ou participação de lucros que se comparam à felicidade de ver nos olhos de uma criança a sensação de que ela faz parte de um contexto, de que há alguém preocupado com ela, com seu bem estar. Não há dinheiro no mundo que compre um "muito obrigado" sincero, uma lágrima que escorre ao se contar a própria história a alguém que está ali para escutar, que se importa, que quer ouvir e que quer fazer algo para amenizar a dor.

No fim, esse meu sonho de fazer algo útil para a humanidade não é assim tão altruísta. Faz-me um bem tão grande que arrisco a dizer que é muito mais por mim que pela humanidade em si. E enquanto houver em mim este desejo de fazer do mundo um lugar um pouco menos ruim para se viver, estarei por aí. Até abril, aqui por Moçambique. Depois, onde me for dada a oportunidade de investir neste meu momento de egoísmo na busca pela minha própria felicidade.

4 comentários:

  1. Sem palavras xará... admiro muito!! Parabéns pelo egoísmo se é assim me quer chamar!
    PS: e poste fotos dos rostinhos simples e alegres pra gente sentir um pouco disso tudo aí!

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  2. Concordo com a sua xará e morro de orgulho de ter cruzado um dia com uma pessoa como você!!!! :)
    Estou adorando o blog Pa, adoro como vc. escreve e expressa o que sente, é contagiante!!!
    beijos

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  3. Paolita, fico muito feliz por ti. que bom que tu conseguiu ir, que tais bem. tu é bem corajosinha né! haha te admiro muito. parabéns mesmo =D
    beijo grande =*****

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  4. Amiga, fiquei até emocionadinha com seu texto. Sempre pensei assim, que tudo que a gente faz pelos outros é mais por nós mesmos que pelos outros. Agora, tem que ser muito egoísta pra ser tão desapegada, né? eheheh (só que ao contrário). Beijos!!

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